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29 de mai. de 2016

Resenha - Holocausto Brasileiro, Daniela Arbex


O repórter luta contra o esquecimento. Transforma em palavra o que era silêncio. Faz memória. Prefácio, Eliane Brum

Você sabia que no Brasil também existiu um holocausto? Quase exatamente igual ao holocausto judeu, exceto por um detalhe mínimo. Aqui, em Minas Gerais, mais precisamente Barbacena, no século XX, mais de 60 mil pessoas morreram. Só que essas pessoas não eram judias: eram esquizofrênicas, epiléticas, homossexuais, garotas que haviam perdido a virgindade antes do casamento, meninas que haviam pedido ao pai uma distribuição justa da renda, os desafetos, etc. Muito mais do que isso: o Colônia, como era chamado o maior manicômio do Brasil, era um depósito de lixo humano, sendo a maioria de seus internos, pessoas pobres e sem condição nenhuma de se tornarem produtivas na sociedade.


Agora que eu já fiz uma apresentação básica do que foi o hospital de Barbacena, devo admitir que, como brasileira e mineira, eu não conhecia essa história. Apaixonada por ficção, tudo que eu desejava enquanto lia esse livro-reportagem escrito pela juizforense Daniela Arbex, formada em jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora em 95, era que tudo não passasse de ficção. Mas não é ficção, infelizmente. Na medida em que eu passava as páginas, meus olhos se enchiam de lágrimas e eu me perguntava como foi possível que tamanha crueldade estivesse acontecendo dentro daqueles muros do Colônia e o Estado continuasse inerte em relação à qualquer proposta de mudança. O psiquiatra Ronaldo Simões Coelho foi uma das primeiras pessoas a denunciar o Colônia, mas, ao fazê-lo, acabou perdendo o emprego na Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).

Para você que ainda não sabe, vamos começar primeiro com a maneira como os internos eram tratados - destratados fica melhor - (caso ainda não tenha lido o livro, aconselho arrumar um pdf pra ter uma visão mais aprofundada sobre esse massacre ). Bem resumidamente, as pessoas dormiam em capins que eram empilhados nos corredores, andavam nuas no frio cortante de Barbacena, bebiam água diretamente de um esgoto que cortava o pavilhão do hospital, se alimentavam de forma precária e desumana (tanto que em uma parte do livro, um dos visitantes pergunta à um cozinheiro do hospital se eles criavam porcos ali, ao ver como a "comida" era preparada. O visitante era o formando em Medicina na época, Francisco Paes Barreto, que também se rebelou contra a desumanidade de Barbacena). Não posso deixar de citar os abusos físicos e psicológicos que eram investidos nos internos como forma de castigo. Por último, a lobotomia e os eletrochoques. No livro, inclusive, são narrados episódios onde pacientes morriam de parada cardíaca ao receberem eletrochoques, sendo estes, aplicados deliberadamente.


Nesse livro da Daniela, ela relata o descaso humano que acontecia em Barbacena com relatos de alguns dos sobreviventes do hospital, além de psiquiatras, jornalistas e ex-funcionários que testemunharam a rotina do que foi o maior depósito dos indesejados sociais aqui no Brasil. Com uma escrita fácil de entender, e muitas vezes tocante, a jornalista desmiúça a história do manicômio de Barbacena que tirou a identidade, a dignidade e a vida de inúmeras pessoas.

 Pra vocês terem uma ideia, eu acredito que demoraria um tempo bem grande pra realmente ler esse material se não fosse a faculdade. Em uma palestra e, posteriormente, em sugestões de livros-reportagem para um trabalho que nós vamos fazer, esse livro entrou em pauta. Mas foi na palestra que tive o primeiro contato com essa história. Lá, conheci o Iago Rezende e o Fred Furtado, dois palestrantes que nos apresentaram o projeto Loucos são: direito de voz. Maravilhoso!

Abaixo, o documentário do cineasta Helvecio Ratton sobre o Hospital Colônia de Barbacena. Obs.: ele optou por não colocar trilha sonora, mas deixar os sons do ambiente. 

(Agora que eu já cumpri essa obrigação de apresentar um pouco o livro para os que ainda não o conhecem, posso ler o Um beijo de morte). Beijos!

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