São
5:30 da manhã, e a cada minuto que escrevo, mais um minuto é acrescentado às
horas. São 5:30 da manhã ainda, e o sol não apontou no horizonte, mas já se
pode ouvir um buzinar aqui, um frear de caminhão ali, uma moto desesperada, uns
pedestres atravessando a faixa. Despertos. E a cada minuto que se soma às
horas, mais despertos ficam. Todos os dias são os mesmos, as horas se
arrastando, as pessoas levantando de suas confortáveis (ou não) camas, tomando
ou não seus cafés da manhã e seus banhos matinais e abrindo o portão para começar
um novo e árduo dia de trabalho. Todo santo dia. Depois de horas, 10, 11, 12,
horas, voltam para suas casas e fazem o que são supostas a fazer. A maioria
reclama da rotina, da monotonia da vida, do desperdício do curto tempo que lhe
foi concedido na Terra. Mas alguém, por acaso, já pensou em mudar? Alguém já
sentiu-se farto de tudo isso e declarou jogar tudo pro ar, de uma vez?
Afinal,
qual é o sentido da vida, se é que há algum? É trabalhar, dormir, trabalhar,
dormir e trabalhar…..? Pra comprar uma casa melhor, uma mobília melhor, colocar
os filhos numa escola melhor? E o que acontece depois, ao fim de todo o
trabalho, dos 20,30 anos de trabalho? Aí chega a aposentadoria, mas agora já
estamos cansados e velhos demais, com pouca energia demais para fazermos algo.
E o quê? O que mais há para fazer? Que diabos é tudo isso e nada disso?
Agora
são 5:40, o céu está de um tom cinza e um pássaro cujo nome não me recordo
acabou de surgir de um dos galhos dessa grande árvore que margeia a rua. Grande
é um conceito relativo. Por exemplo, o Pico da Ibituruna, em Governador
Valadares, é grande com seus 1.123 metros de altitude. Mas, se comparado ao
Monte Everest, com uma altitude de 8.848 metros, o Ibituruna não é grandes
coisas assim.
Agora
são 5:50, e os pássaros não só apontam nas copas das árvores como também
gorjeiam. Um senhor com uma bicicleta velha e enferrujada, trajado de um
uniforme azul anil, acabou de transitar a avenida. Mais veículos estão
surgindo, e o barulho, o usual barulho da cidade acordada, agora já é mais
audível.
São 6
horas da manhã, em ponto. O céu já está de um cinza mais claro, e posso dizer
que o barulho na rua quadruplicou nos últimos 600 segundos. Os pássaros e os
veículos já não sussurram, mas gritam, entoando, sincronizados, que o dia já
vai começar, mesmo que para alguns já tenha começado há um tempo. (Interrupção
para tomar o café).
Agora
são 6:10 da manhã, o céu está de um cinza quase branco (ou de um branco quase
cinza?), e as aves estão desesperadas, entoando, juntas, um farfalhar
estridente e não sincronizado, enquanto ouve-se os veículos, apressados,
transitando na avenida. E a vida segue, mesmo que muitos corpos, nesse exato
minuto, estejam sendo enterrados a quatro ou mais palmos da terra. Mesmo que
algum presidente em algum lugar no mundo tenha renunciado, que alguma criança
tenha acabado de morrer de fome e desidratação, mesmo que um rio importante
para a agricultura de um povo tenha mudado de curso, e mesmo que a seca em
algum lugar tenha matado animais e causado queimadas. A vida segue mesmo que um
homem-bomba tenha se explodido durante uma partida de críquete, vitimando
inúmeras pessoas; mesmo que grandes nomes da literatura ou da ciência morram. E
a vida segue mesmo que eu morra.
E
quando Hazel Grace, em A culpa das Estrelas, diz ser uma granada que pode
explodir a qualquer momento, ela não estava errada. Não precisamos ter um
câncer para sermos como uma granada que pode explodir a qualquer momento, levando
junto conosco as pessoas que amamos. Todos nós, sem exceção, somos granadas. E
quem dera eu, um dia, poder desativá-la para sempre. Enquanto o dia de a minha granada explodir não chega, vou escrevendo e lendo mais um pouco, fazendo as
coisas que faço repetidamente todos os dias. Afinal, a vida segue, e eu sou um
marinheiro à deriva seguindo o curso dela.
E,
enfim, amanheceu, e aquela estrela grande e amarela chamada Sol está apta a
brilhar mais uma vez.
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Amanhecer no Rio.
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