"Todos os dias, uma garota faz 18 anos e todos os dias uma garota quer fazer pornô."
Riley, 23 (agente de talentos e ator)
Hot Girls Wanted é um documentário produzido pela Netflix dirigido pela dupla Jill Bauer e Ronna Gradus, do também controverso Sexy Baby (2012). A tradução do título é algo como Procura-se garotas sexys. É um documentário que me fez chorar, refletir e quebrar vários tabus. E, claro, me deixou totalmente inerte em vários pensamentos conflitantes.
Para começar, imagine você, à qualquer hora da noite ou até mesmo do dia, acessando um site pornô (um caso bem corriqueiro entre quase todo mundo). Aquelas garotas ali, normalmente bem jovens, são vistas como "um pedaço de carne", um produto comercial da indústria pornográfica que visa apenas satisfazer o homem, como bem disse a atriz conhecida como Ava Taylor:
"E o importante é que o cara goze. Como se a garota estivesse lá só pra ajudar. Você só precisa ter peitos, vagina e bunda. É só o que importa. Eles não se importam com quem você é."
Além disso, os abusos físicos e mentais que elas passam são gritados ao espectador a todo momento. Mas o documentário não para aí: ele conta um pouco das histórias dessas meninas, que têm namorados, pais, sonhos, famílias, mostrando também as transformações que elas passam desde o início das filmagens até o instante em que param com a carreira - um ator explicou que uma atriz de sucesso nesse ramo fica, no máximo, um ano. As meninas são sempre renovadas e uma empresa de sucesso usa uma mesma garota duas ou três vezes, para depois ser substituída. Já a permanência dos homens é bem mais duradoura que a das mulheres (!).
Há uma garota bem conhecida, estudante de Duke, onde cursa Direito. De dia, ela estuda, à noite, grava cenas. Cenas estas que são, muitas vezes, extremamente abusivas. O nome dela é Miriam Weeks (ou Belle Knox), e ela disse à um programa:
"O que quero fazer é romper as barreiras que separam os profissionais do sexo da sociedade tradicional."
E o discurso dela continua, fazendo uma crítica à educação tão cara nos Estados Unidos - a Duke cobra, por ano, cerca de U$ 60.000, o que uma garota vinda de uma família de classe média baixa não poderia nunca arcar; briga contra o sistema de financiamento educacional deste país, que pode levar famílias à miséria e, não menos importante, luta contra a opressão masculina, que transforma mulheres em objeto.
Os vídeos pornôs podem parecer criar pessoas irreais, que não sentem, e que estão ali dando a ideia de que são personagens perfeitos, com o único fim de fazer sexo e satisfazerem os espectadores (e o homem da relação heteroafetiva). Um sexo sem comprometimento, muitas vezes doloroso, cujo parceiro jamais seria ao menos considerado na vida real. Mas este documentário vai além, e o que ele exatamente esfrega na cara da sociedade é que estas são mulheres reais, com dores reais, famílias reais e iguais à mim ou à você que está lendo.
Os motivos para entrar nessa indústria? Hot Girls Wanted mostra vários: dinheiro rápido e fácil, viagens (algumas garotas nunca tinham nem entrado em um avião), autoconfiança, independência... fama.
"Está brincando? Ganho U$ 900 em cinco horas. Vou voltar para a minha cidade e ganhar U$ 8,25 por hora?"
O medo e a ansiedade de serem descobertas pelos pais também é algo muito recorrente entre essas jovens.
"Todas elas tem a mesma história. "Meu namorado não sabe". "Meus pais não sabem". Espero que nunca descubram. Mas eles vão descobrir [...] porque todo mundo vê pornografia."
E, claro, os agentes fazem o maior dinheiro:
"Tem três agentes importantes aqui. Sou um deles agora. Também sou ator. Costumavam me agredir e zombar de mim na escola e agora estou me dando bem. Em um ano, deixei de ser um lavador de pratos fracassado do Outback para morar em Miami Beach em uma casa de cinco quartos, com carro próprio[...]. E eu ganho um bom dinheiro."
Enfim, esse é um documentário para ser assistido, com toda a certeza. Ele me fez enxergar as coisas de modo bem diferente.
Confira o trailer oficial do filme:
Minha avaliação (numa escala de 1 até 5 estrelas)
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